A ASSOCIAÇÃO

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A nossa Associação, a AMEHC, foi fundada em 15 de julho de 1985. Alguns fatos de sua pré-história merecem ser recordados e contados, já que a respeito deles, poucos são sabedores e os mesmos merecem registro.

Tudo começou com algumas reuniões fechadas, convocadas sigilosamente, em algum mês do ano de 1983, dois anos antes da sua fundação, quando era Diretor Presidente do GHC o Dr. Gildo Wilhelm e então vivíamos ainda sob a égide da ditadura militar, recém iniciado o período de abertura política. Um pequeno grupo de médicos fez então algumas reuniões na sala da Pneumologia, naquele tempo conhecida como a sala do Dr. Ivan Hervê.

Para confirmar e complementar esta história, o Dr. Juarez Verba, ainda trabalhando no Conceição e os Drs. Ivan Hervê, Otto Busato e Lenine Cunha, que não trabalham mais no Hospital.

Os Drs. Nelson Seligman e Júlio Lopes, infelizmente já falecidos, completavam o grupo dos participantes daquelas reuniões quase secretas.

O objetivo era fundar uma Associação dos médicos para poder fazer ouvir a nossa voz sobre os destinos do Hospital, para nos representar interna e externamente, em um período em que estávamos totalmente excluídos do planejamento e decisões diretivas da instituição.

Precisávamos de alguém que nos orientasse nas questões legais e ajudasse na elaboração do estatuto. Sugeri o nome de um advogado trabalhista meu amigo, na ocasião ainda bastante desconhecido no nosso meio médico.

O Doutor Tarso Genro fez assim seu primeiro contato com a categoria médica aqui do Hospital, ao qual seguiram-se muitos outros, nos anos seguintes e até os dias atuais. Não imaginávamos na ocasião que ele chegaria a ministro da República.

Fomos por ele orientados a usar como modelo um estatuto qualquer e adaptá-lo às nossas necessidades. O que foi utilizado, por mim trazido, pertencia à Associação de Moradores da Vila Chácara Barreto, de Canoas.

Tudo era realizado na maior concordância. Mais algumas reuniões e o estatuto estava pronto. A associação poderia ser fundada, com a eleição de uma Diretoria. Era o momento crucial, mas, na hora H, o peso do período ditatorial que vivíamos, prevaleceu.

Houve uma consulta À Diretoria do GHC que desaconselhou o empreendimento. A maioria do grupo "deu prá trás" e tivemos que recuar do projeto.

Lembro que ficamos, o Dr. Juarez Verba e eu, algo decepcionados, mas totalmente impotentes para seguir adiante com a Associação.

Entreguei os estatutos para o Dr. Juarez guardar até que surgisse outro momento mais oportuno para o seu uso.

Cerca de dois anos depois, tivemos um quadro nacional de lutas pela abertura política, compondo um cenário totalmente diferente.

Mobilizações dos trabalhadores da área de saúde com a participação de médicos começavam a acontecer de forma insistente aqui no Estado.

Criaram-se então condições e a AMEHC foi fundada, em meio a uma grande mobilização política dos médicos do Hospital.

Realizamos algumas assembléias no Anfiteatro do Hospital, que mais tarde seria desmanchado, nas quais compareceram mais de quatrocentos médicos.

Eram momentos de grande euforia de todos, de muita participação e construção democrática, que perduraram por alguns anos, antes de serem neutralizados por uma drástica repressão institucional.A primeira Diretoria eleita da AMEHC contava com o Dr. Rui Peixoto como presidente e eu era o vice-presidente.No verso da convocação para a posse da primeira Diretoria da AMEHC, ocorrida em 17 de julho de 1985 e assinada pelo Dr. Valério Garcia, Presidente da Comissão eleitoral, rabisquei algumas palavras da minha fala da ocasião, que sintetizavam o espírito que tínhamos com a criação da nossa entidade.

Entre o que está escrito naquele papel já envelhecido, que ainda guardo como documento de registro histórico, pode-se ler, ao final: “As palavras que mais tem sido repetidas em todas as partes do Hospital são participação e autonomia.

Estas palavras significam uma reivindicação e uma proposta.

Proposta de participação na elaboração de uma política hospitalar e de saúde que represente os interesses dos médicos e dos funcionários do Hospital, voltada para o melhor atendimento dos pacientes.

Esta é a nossa meta inicial: participar ativa e diretamente, com autonomia, o que infelizmente não tem ocorrido até aqui".

A AMEHC participou ativamente do processo de democratização das relações de trabalho no GHC e, entre os anos de 1985 e 1988 ajudou a organizar processos eletivos com a participação e o voto direto de todos os funcionários, para os cargos de Diretoria dos hospitais do Grupo Hospitalar Conceição.

Depois, firmou-se como uma das maiores Associações de médicos e odontólogos de uma instituição hospitalar do país.

Recordando isso tudo e muito mais que já passou na história da AMEHC e do Hospital Nossa Senhora da Conceição, às vezes penso que muitas das propostas que não vingaram, estão lançadas como sementes que ainda poderão germinar, fertilizadas por novos fatos.

Como na pré-história da AMEHC que, talvez pelo nosso próprio imobilismo e temores, deixou a Associação em suspenso por um período e só depois, a semente lançada começou a dar seus frutos.Porto Alegre, março de 2004.

A Sede Atual

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